Demorei para escrever, mas antes tarde do que nunca. Nossos grandes campeões estão vivendo dias difíceis. Ronaldo em uma nova via crucis cirúrgica e fisioterápica. Guga, o brasileiro que ficou um ano completo como número um do mundo, despedindo-se das quadras. Os dois com problemas físicos que os levaram à "invalidez competitiva". Romário abandonando aos poucos os campos.
O que há de semelhanças e diferenças entre Romário, Guga e Ronaldo?
Primeiro as semelhanças: os três são campeões, mais reconhecidos no resto do mundo do que no Brasil imediatista, no Brasil que só dá valor ao campeão da vez, no Brasil que quer ídolos sem defeitos e no Brasil que não aceita nada além da vitória.
As diferenças: Ronaldo e Guga vivem seu ocaso em virtude de problemas físicos; seus corpos não aguentaram o peso das competições de alto nível e agora cobram o (alto) preço. Romário, por sua vez, tem a idade como fator preponderante do fim de sua carreira.
Dito isto, acho que a diferença entre os três é um mero detalhe: o modo como encararam a vida e o esporte.
Ronaldo e Guga gostavam do que faziam. Viveram para isso, treinaram e se dedicaram às competições de alto nível. E encontraram a realização no esporte. Viveram grandes alegrias e, agora, a tristeza definitiva para Guga, e um caminho triste em direção ao fim para Ronaldo. Amavam o esporte. Para estes, vejo que em determinado momento o amor pelo esporte se transformou em carreira de sucesso, exigindo-lhes o comportamento e dedicação inerentes às exigências profissionais. Guga se despediu, Ronaldo se despedirá, ambos sofrerão a perda de algo que faz parte de suas vidas, mas ambos gozarão felizes a aposentadoria, ainda que de vez em quando voltem às quadras ou aos campos com os amigos.
Romário fazia o que gostava. Viveu para isso, mas não treinou tanto assim... E encontrou a realização no esporte. Viveu grandes alegrias e, agora, a tristeza. Amava o futebol (não o esporte em si), como uma criança. Para ele, o amor pelo futebol se transformou em carreira de sucesso, mas Romário não se rendeu ao comportamento e à dedicação que o profissionalismo lhe impunha.
Talvez por isso Romário não consiga parar. Nunca. Romário é daqueles que fará vinte jogos de despedida e não conseguirá se despedir. Talvez com 50 anos esteja jogando em algum time da 3a divisão. Quando Romário não puder mais jogar, não gozará feliz sua aposentadoria.
Dizem que um verdadeiro campeão deve saber a hora de parar. Com Pelé foi assim, com Garrincha não. Romário está mais para um Garrincha moderno, que diferentemente do verdadeiro soube aproveitar bem o dinheiro que seu amor (o futebol) lhe proporcionou, do que para um Pelé. A diferença? Edson amava seu alter ego Pelé, e quis dar ao seu amor uma presença eterna na história esportiva. Romário é simplesmente Romário, que ama o futebol mais do que ama sua própria imagem.
Aos três, Romário, Ronaldo e Guga, muito obrigado!